sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Andara... - A história de um homem amargurado e seu camafeu


Tela de Oswaldo Goeldi

Andara velho, maltrapilho
Com passos bruscos e o andar lento
Com os pés sujos em suas botas surradas
Seu corpo na veste rasgada

Andara angustiado, amargurado
Com os olhos negros de quem viu de tudo na vida
Com os bolsos quase vazios
Onde havia somente três moedas de cobre e uma medalhinha que anteriormente expunha no peito ao lado do coração

Andara na lama e na neve
Deixando rápidas marcas por onde passava

Era nômade, um verdadeiro viajante
Com uma existência nada significativa
Com um deserto interior enorme
Tão seco e triste quanto se possa imaginar

Andara pensando no tempo em que era jovem...

Andara jovem
Com o andar rápido e transpassado
Com passos firmes e despreocupados
Com o coração limpo e roupas finas
Sua alma livre e inocente 

Andara perdido
Até seus olhos encontrarem o que procuravam
Mesmo sem saberem que necessitavam

Andara com ela
Com encanto e doçura
Com a imagem de uma imperfeita doce menina-mulher emergindo seus sonhos


Andara lembrando do aroma de rosas 
Aquele que sentiu na primeira vez que o vento brincou com os longos cabelos dela

Andara, todos os dias, sonhando
Com a profundidade que os olhos dela, escuros como os dele, pareciam ter quando ela sorria

Andara unindo-se a ela
Com as mãos dadas e juras de amor eterno
Com anéis e um camafeu

Andara envelhecendo um pouco
Caminhando com ela e o tempo
Vendo sonhos irem pelo ralo
Nunca ouvindo choros infantis em sua casa
Assistindo as brigas invadirem completamente o seu tempo

Andara sem reconhecê-la
Com a lembrança daquela menina-mulher se apagando
Com uma nova dama de vestidos vermelhos ousados surgindo
Sem aquela profundidade de seus olhos negros

Andara surpreso
Com ela foragindo de cada olhar dele
Abandonando o amor que tanto cultivaram
Enfiando-lhe a faca no peito

Andara sem ela
Sangrando internamente em plena meia-idade
Com suas forças e alegrias o abandonando
Com ela o deixando por outro

Andara culpando seu amor sincero
Que assassinou seu coração
E extorquiu suas esperanças

Andara vagando
Com os pés nas vielas mais sujas
Sem rumo ou pudor
Seu pensamento nunca a deixaria

Andara bêbado
Se jogando no beco mais próximo
Como um lixo
Algo que ninguém mais quer

Andara vivendo assim
Com o retrato dela guardado no cordão do bolso
Não querendo deixar a tristeza que ela trouxe para trás

Andara virando o homem velho das roupas rasgadas e das mãos de carvão...

Andara, às vezes, no extremo
Enlouquecido
Jogando o camafeu no chão e pisando
Mas, ele não se destruía e era guardado novamente no bolso

Andara observando pessoas
E viu a velha menina-mulher novamente
De braços dados com seu companheiro 

Andara adormecendo no chão frio
Coberto da neve fofa
Inebriado por aquele doce perfume que um dia emanou dela

Andara cheio de lágrimas nos olhos
Com a correntinha agarrada aos dedos
Com as boas e ruins lembranças remoendo sua mente

Andara sentindo mais dor
Até ela ir o deixando
Para que pudesse fechar os olhos pela última vez

Andara a sete palmos da terra gélida.


E... acabou! Texto grande, não? 
E, então, gostaram? Se sim, comentem aí embaixo. Deixem suas opiniões! (sejam bonzinhos)
Em breve, mais textos meus.

Obrigado a todos e bye-bye!

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